Adultos de amanhã

Muitas vezes, cansados de noites mal dormidas, respondemos com o não na ponta da língua. Perdemos a paciência em segundos e não estamos tão presentes como gostaríamos. Com dois, a vida altera um bocadinho o rumo, mesmo quando tentamos remar no mesmo sentido. Procuramos continuar a ser as pessoas que éramos, pois só assim lhes conseguimos passar os nossos valores. Esforçamo-nos por sair de casa, para lhes mostrar que a vida que acontece lá fora é boa e é feliz. Para que eles aprendam em pequenos que não estão sós no mundo.

Os vídeos que têm circulado acerca do que se passa hoje nas queimas das fitas, assustam-me de verdade. Assusta-me não saber que adultos estarei a criar e se efetivamente conseguirei passar-lhes aquele que é, para mim, o valor mais importante: respeito. Respeito por si próprio e respeito pelo outro.

Penso que nesta montanha russa de dias que passam a correr, nos cabe a nós pais, procurar ser o espelho fiel do que tentamos ensinar. Acredito que o único caminho que podemos percorrer é aquele que nos dá a liberdade de sermos nós próprios a escolher o dia de amanhã. E depois é confiar… Confiar que eles sejam mais felizes no abraço que no braço de ferro. Confiar que eles se respeitem a si mesmos, ao seu corpo e às suas vontades e sejam capazes de perceber o certo e o errado. Confiar que irão rodear-se de pessoas boas e com elas aprender que um amigo nunca se deixa ao abandono. Confiar que se tornem adultos educados e respeitadores. Que se apoiem um ao outro e se orgulhem das suas escolhas e das pessoas que se tornaram.

E esperar que da próxima vez que o meu corpo pedir sofá e a minha voz se elevar em resposta a um pedido exigente, eu tenha a força para lutar contra mim própria e dar um pouco mais de mim, trocar o berro pelo abraço, o não pelo sim.