Um abraço que mata bicho

Vivemos tempos estranhos estes em que nos pedem que eduquemos pela distância e não pelo abraço. Mais estranhos ainda quando  exigimos da criança, aquilo que deveríamos não precisar de pedir ao adulto.
Anulámos-lhes a hipótese de fazer a única coisa que lhes deveríamos pedir para aprender: brincar! Tirámos-lhes os parques. Dissemos-lhes que afinal este ano não tinham atividades extracurriculares, não iam nadar, nem cantar, nem fazer aquele desporto engraçado que eles estavam a gostar tanto de aprender. Pedimos-lhes que não partilhassem comida nem brinquedos. Na verdade, pedimos-lhes que não partilhassem, ponto. E a tudo isto, a criança respondeu com um sorriso. Julgo que sem perceber bem que conversa era esta, a do adulto agora, a criança adaptou-se porque é incrível.
Mas depois, aquele que dela exige, reclama porque a máscara dá comichão. Porque transpira. Porque dá dor de cabeça ou faz calor. Reclama porque só se pode reunir com nove, dos seus muitos amigos, no café. Da esplanada, que não é boa nos dias frios. Reclama porque tem que desinfetar as mãos e o gel cheira mal e é pegajoso. Porque isto e porque aquilo. Porque tudo é desculpa, quando a crítica é a primeira resposta.
Sim, vivemos tempos mesmo estranhos, estes em que é a criança que respeita aquilo que o adulto crítica.
Por isto, cada vez tenho mais vontade de lhe dizer a ela, à criança que é a grande heroína desta história:
“Abraça. Abraça forte. Abraça num abraço apertado. Ou apenas abraça. O amor mata o bicho.”