Uma mão cheia

Fez cinco anos o meu pequeno índio e já sonhava com a festa dele há meses. Pedia muito, para depois olhar para nós e dizer, como se de uma resposta se tratasse, sim, eu sei, quando não houver quarentena.

Disse-me uma amiga que me ia custar mais a mim do que a ele, e mesmo acreditando, procurei inventar mil maneiras para dar a volta à atual situação e conseguir dar-lhe um dia que fosse à medida dele.

A verdade é que estamos formatados para querer mais. Para colocar o “se” no nosso discurso. Para acharmos que podia ser sempre melhor. Passamos a vida a ouvir (e a ler) o quanto o Covid nos tirou, o que não nos deixa festejar, a quem não nos deixa abraçar.

Esquecemo-nos, a mesma quantidade de vezes, que do pouco se faz muito. Que não precisamos de ter a casa cheia, para ter sorrisos à mesa. E que, por vezes, o abraço mais apertado é dado só com o olhar. Esquecemo-nos daquilo que as crianças nos passam a vida a ensinar: tudo o que é simples basta, quando é feito com amor.

E no final do dia, é isso mesmo que faz a diferença. As pequenas coisas e a surpresa do momento. A alegria de quem não espera o mundo, mas o acaba por ter nas mãos.

Parabéns, miúdo de olhar gigante!